artigo dezessete

Líquido sendo despejado e formando uma taça.

 

Foto: ©Charles "Duck" Unitas on Unsplash

 

por Anderson Antonangelo*


num bistrô obtuso
dois homens cauca-
sianamente obtusos
bebem um cognac old
aged in oak barrels
com um adstringente
retrogosto obtuso
e descobrem ao aca-
so que o direito à
propriedade é sim
um direito humano

e no meio de tantas
posses tantas coisas
que acumulavam so-
madas eram seis ca-
sas claro que três
delas de veraneio
alguns carros para
coleção o cartão
vip do puteiro de
luxo uma arma no
armário claro só
para defesa pessoal
funcionários explo-
rados e mal pagos e
mesmo uma estagiária
você precisa ver que
gostosa pessoas alea-
tórias para educar
seus filhos pois não
se pode deixar inves-
timento descuidado

olharam-se profunda-
mente com ternura
humanamente obtusa
e (apesar de haver
ainda outros vinte
e nove artigos na de-
claração) sentiram-se
benfeitores à sua ma-
neira sentiram-se to-
mados pelo espírito
da benevolência e de-
cidiram pedir agora
um brandy cada um dan-
do uma obtusa gorjeta
mais generosa que o
outro para o garçom

*Anderson Antonangelo é graduado em Jornalismo e Letras pela Universidade de São Paulo. É poeta e professor, e atualmente cursa mestrado em Teoria Literária, na Universidade do Minho, em Braga. É autor de Fantasmagorias, publicado pela Editora Gota, e três vezes finalista em poesia na FLIP.

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