Como você tá?

Foto das caras de duas ovelhas, uma de frente para a outra, de perfil.


por Jessica W. Olivieri*


– Tô ótima! E você?

– Tudo bem também. O que você tem feito de novo?

– Nossa, semana passada fui fazer Reiki, que vivência maravilhosa.

– É? Por que você foi?

– Disseram que era bom para alinhar a energia, dar uma harmonizada na vida, uma repaginada, essas coisas. Sério, gratidão pela Mestre Suzana!

– E você ficou bem?

– Tô ótima!

– Fico feliz de saber, amiga! E que mais? Novidades?

– Esses dias fiz uma constelação familiar, foi divino também. Mara!

– Mas isso não é pra quem tá com problema na família?

– É, eu tenho tido uns problemas fodas lá em casa, mas super ajudou. Um dia após o outro, né? Me senti super reconectada com todos, fiquei ótima!

– Poxa, que bom! Mas tá tudo bem, mesmo?

– Ótimo!

– Bom saber! Fora isso, como vão as coisas?

– Depois da constelação, acho que umas coisas se abriram em mim e você não sabe!

– O quê?

– Fui fazer hipnose!

– Meu Deus! Mas pra quê?

– Pra ajudar com minha ansiedade, depressão, ficar mais equilibrada, sabe?

– Mas você tá deprimida?

– Deprimida, deprimida, não. Mas sabe aquela tristeza? Todo mundo tem… No peito assim, um aperto, uma solidão, aquela dor profunda…, mas tipo, normal, do dia a dia.

– Sei… quer dizer, acho que sei. E aí como foi?

– Nossa, regredi pra umas coisas do meu passado, do namoro com o Thomas, foi uma doidera. Chorei dois dias seguidos, acredita?

– Amiga do céu!!! Tem certeza que você tá bem? Dois dias chorando? Você ainda faz análise?

– Faço! Duas ou três vezes na semana. Acabei de começar a deitar no divã. Tem sido uma experiência louca.

– É bom fazer análise, né? Com tudo isso que tá acontecendo na sua vida…

– Isso o que? Eu tô ótima, amiga! Mesmo! Passou pra mim já. É aquilo que dizem, ressentimento é um veneno que você toma esperando que o outro morra. Jamais! Eu não guardo mágoa nenhuma.

– Mas mesmo assim, legal ter alguém para conversar e tudo.

– Sim, super bom, super importante. Falando em conversar, recentemente, fui num tarólogo muso. A gente ficou mais de três horas conversando depois que ele leu as cartas. Quanta coisa tem pra aprender com o tarô, gente!

– Tarô? Nossa! Quanta coisa alternativa você tem feito, hein?

– Tô buscando umas coisas sim pra crescer, me centrar. Ficar bem, sabe?

– Entendi… E que que deu no Tarô?

– Que eu tô super bem, que as coisas tão dando mega certo, tô ótima e que tudo tende a melhorar.

– Entendi, mas melhorar como?

– Pegar o que já tá indo ótimo e dar um up, sabe?

– Sei…

– Mas chega de falar de mim. E você? O que me conta?

– Nada de novo. Desde que vocês terminaram o namoro, tem sido meio constrangedor os almoços de família. Minha mãe ainda fala muito de você e o Thomas fica bem irritado.

– Ela sempre vai ser minha sogrinha. E o Thomas, tá bem?

– Não sei, acho que não. Tá sempre reclamando de besteira, trabalhando muito. Meu irmão não sabe lidar com esse tipo de situação.

– Bom, ele deveria procurar ajuda ou, sei lá, vir falar comigo. Tenho refletido sobre isso e acho que o fim foi muito apressado.

– É, mas ele fala que tá bem feliz solteiro, que precisa ficar sozinho.

– Bom, não foi isso que apareceu nos búzios.

– Búzios?

– É! Fui numa baiana super top fazer uma leitura de búzios e ela disse que via que a gente tinha que ficar junto.

– Nossa, sério?

– É! Falou que ele vai se arrepender e vai vir me procurar. Mas assim, amiga, entre nós, tá? Eu não vou ficar esperando seu irmão. A vida anda, as coisas são muito fluidas, tenho aprendido muito sobre isso numa meditação transcendental, que meu tarólogo recomendou.

– Tem razão.

– É, ninguém pisa no mesmo rio duas vezes, sabe? Então quando ele vier me procurar, porque ele vai (saiu nos búzios e na constelação), eu vou estar em outro lugar, outro momento. Ninguém garante nada e a fila anda.

– É. Acho que é melhor você pensar que ele não vai voltar e tentar superar.

– Superar? Tá superado já. O tempo cura tudo. Aliás, na terapia discuti muito isso. Incrível como eu estou bem! Ela ficou falando do luto, que eu tinha que viver o luto. Mas já passou tudo. Não tô nem aí pra ele. Passei uma régua já.

– Que bom! Mas se você precisar desabafar, qualquer coisa, pode falar comigo, viu?

– Pode deixar, mas amiga, realmente, nunca estive melhor. No fim tudo dá certo, e se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim. E, pra mim, já chegou.

– Que bom! E o trabalho?

– Acabei tirando uns dias de licença.

– Por quê?

– Queria me organizar. Dar uma pensada na vida, não tava conseguindo acordar para ir trabalhar, porque não tava conseguindo dormir. Mas devo voltar mês que vem já. Tá tudo tranquilo.

– Nossa! Entendi. Você já tá dormindo melhor?

– Já! Depois da aromaterapia que fiz lá em casa, resolveu! Tô ótima!

– Que bom! Pior coisa não dormir.

– É, eu ficava pensando besteira e acabava ficando muito triste, querendo acabar com tudo.

– Como assim?

– Foi passageiro, deixa pra lá. Agora tá tudo ótimo, tô dormido bem, tô indo no centro espírita, tomei passes, tudo de bom, amiga!

– Legal! Mas assim, se precisar de qualquer coisa, me fala, viu?

– Claro, mas não preciso! Tô ótima mesmo!

– Muito bom te ver assim! Fico feliz de saber que você tá bem!

– Tô ótima!

*Jessica W. Olivieri (São Paulo, 1989) escreve nas poucas horas vagas e remói a culpa de querer escrever mais e não estar sempre ótima. Publica seus escritos no site: https://derkaffeeklatsch.com/

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