Violência não tem justificativa, e toda explicação para tal soa como vã


por Sarita Borelli* e Felipe Saches**


Muito embora a percepção e a análise dos editores da Revista Aluvião a respeito do momento atual da sociedade – em que pese todo o esforço de tomada de pulso, em nível global, a busca por fontes alternativas de conhecimento e de informação e a famosa ginga praticada contra verborragias efêmeras – seja permeada e maculada por um recorte específico, de potencialidades e deficiências inerentes ao meio em que está banhado, parece evidente a atuação de ventos conservadores na atual conjuntura.

Como se não tivesse valido a pena a aventura progressista e até, para alguns mais otimistas, de esquerda – em muitos países, não somente no Brasil –, forças políticas há muito escamoteadas sob o véu das coligações ou dos acordos de governabilidade dão sinais de arregaçar as mangas num futuro próximo.

Não à toa, temos, no cenário doméstico, pesquisas de intenção de voto para o cargo máximo do Executivo que cravam a vice-liderança isolada para o pré-candidato Jair Bolsonaro, ainda sem partido. Sua plataforma política se baseia no ódio às minorias e no combate aos suados avanços conseguidos nas últimas décadas. E não há profundidade política para que se sustente uma oposição estruturada por parte deste candidato à esquerda ou à chamada centro-esquerda, de postura progressista, pois falta-lhe arcabouço de ciência política para que seja considerado, até mesmo, um político de direita.

Contudo, apresentando-se como principal agente catalizador da execração ao Partido dos Trabalhadores – atitude que, diga-se de passagem, também denota certo ódio de classe e de gênero, posto que os desvios de conduta na política e com os recursos públicos notadamente não foram inventados nem amplificados na administração do PT, e este tem como vítimas centrais do apedrejamento dos últimos tempos o ex-presidente Lula e a ex-presidenta, vítima de golpe de Estado, Dilma Rousseff –, Bolsonaro não pode ser ignorado. Se, tragicamente, conseguir algum espaço na mídia, tem potencial para conquistar boa parcela dos indecisos e insatisfeitos, mesmo que muitos destes nem sequer tenham consciência do mal que estão promovendo ao destinar seu voto ao candidato.

Todavia, não convém desconsiderar, sem ressalvas, que o quadro político que proporciona, nos dias de hoje, espaço a pré-candidatos como o citado configura um verdadeiro espelho do perfil político brasileiro atual, uma vez consolidadas nos grandes centros muitas das consequências da revolução da informação.

O que temos, via de regra, é uma dinâmica de vida nas grandes cidades ditada pela competição, a violência, a negação dos direitos básicos, o massacre às minorias e a detratação de suas conquistas. Tudo isso imerso no borbulhante caldo da intolerância.

O número 3 da Revista Aluvião é comprometido com o combate a todos os tipos de intolerância e se solidariza com as vítimas desse mal que assola a sociedade. Mais do que isso, a Revista Aluvião e todo o seu corpo editorial firmam um compromisso permanente de resistência às posturas de ódio e intolerância nos campos político e social, e se posiciona como uma plataforma de livre expressão dessa resistência.

Lutemos por uma sociedade mais justa e tolerante, todos os dias!

*Sarita Borelli é pós-graduada em Design Editorial pelo Senac, graduada em Letras pela Universidade de São Paulo, designer, editora responsável pela Editora Gota e idealizadora da Revista Aluvião.

**Felipe Sanches é graduado em Geografia pela Universidade de São Paulo, poeta, editor de livros didáticos, colaborador de publicações da Editora Gota e coidealizador da Revista Aluvião.

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