Desenho Universal para Aprendizagem – Pensando a educação para todos

Pilha de livros coloridos.
Foto: ©Kimberly Farmer on Unsplash

 

por Gabriela Alias*


 

Segundo a nossa Constituição Federal, a educação é um dos direitos sociais de todos. No artigo 206, em que são citados os princípios que norteiam o ensino, destaco dois que me chamam a atenção quando penso a educação inclusiva e para todos: a igualdade de condições para acesso e permanência na escola e a liberdade de ensinar e aprender.

Durante o período do doutoramento, que iniciei pesquisando a acessibilidade no contexto da educação a distância, percebi que não são apenas as pessoas que têm deficiências, transtornos globais do desenvolvimento ou altas habilidades ou superdotação (indicados na legislação vigente como público-alvo da educação especial) que apresentam dificuldades ou que encontram barreiras no processo de aprendizagem. Assim, logo alargamos o escopo da tese, pensando no conceito de inclusão pedagógica, que está estreitamente relacionado à educação que é, de fato, para todos, visando à permanência e ao sucesso, independentemente de suas características. Conforme o Manual de Apoio à Prática para uma Educação Inclusiva, produzido pelo governo português, a escola inclusiva é aquela que abre as portas de entrada para todos e que garante que à saída, todos tenham alcançado aquilo a que têm direito.

Isso nos leva a (re)pensar a escola e a educação todos os dias, já que a implementação de uma escola verdadeiramente inclusiva tem diversas implicações. Já na Declaração de Salamanca, de 1994, que é considerada um marco quando se diz sobre educação inclusiva, há a premissa de é a escola quem precisa se adequar para receber seu alunado, e não o estudante. Assim, cabe a nós, profissionais que atuamos na educação, delinearmos estratégias que possibilitem a aprendizagem por todos os estudantes. A inclusão precisa ser feita por todos, com todos e para todos, o que implica reflexões desde o planejamento das aulas até a avaliação, e também referente aos outros profissionais e espaços que esse estudante frequenta.

Em relação às questões metodológicas e de prática pedagógica, durante meus estudos, conheci o Desenho Universal para Aprendizagem, que possibilita a nós, professores, pensarmos uma educação que, de fato, seja para todos. Oferecer um ensino que seja realmente inclusivo e que atenda ao que a professora Maria Teresa Mantoan chama de mote da inclusão, que é “não deixar ninguém de fora”, é desafiador e exige reflexão diária.

Gosto muito da metáfora que essa mesma professora e pesquisadora traz em suas obras, que é da sala de aula como um caleidoscópio. Peças de cores e formatos variados, que juntas, formam um todo. Exatamente como nossa sala de aula é, pode e deve ser. Não temos turmas homogêneas e isso é ótimo se pensarmos o momento de ensinar e aprender considerando as diferenças e características individuais, promovendo a colaboração entre pares. Não é uma tarefa nada fácil.

Muitas pessoas ainda confundem educação inclusiva e educação para todos com a chamada adaptação e é preciso reforçar que isso definitivamente não é inclusão! Há estudantes que precisam do auxílio dos recursos de tecnologia assistiva ou de ajustes em seus materiais didáticos para realizar as atividades – por exemplo, um estudante com deficiência visual provavelmente precisará do material em braile e com audiodescrição. Porém, todos podem e devem realizar a mesma proposta de atividade.

Aqui, perceba que não escrevo a mesma atividade, mas a mesma proposta de atividade. Chamo de proposta, pois é justamente esse o lastro que o Desenho Universal para Aprendizagem nos dá para a sala de aula. Considerando que nossas turmas são plurais, heterogêneas, que cada um assimila e produz algo de forma singular e que o processo de aprender é individual, podemos pensar em atividades flexíveis, com o mesmo objetivo pedagógico, mas que podem ser realizadas de muitas maneiras diferentes, contemplando assim as potencialidades dos estudantes. Por exemplo, em vez de solicitar que todos produzam um texto com um resumo de uma escola literária, posso pedir que elaborem um produto que contemple a escola literária estudada, com tais e tais características. A proposta é a mesma, mas a forma como cada um irá desenvolver acaba sendo individualizada.

Durante o período letivo, tento pensar o ensino com estratégias de forma a contemplar estudantes com diferentes características e objetivos – desde aqueles que têm mais dificuldade com leitura e interpretação de texto até aqueles que almejam a aprovação em vestibulares, que, no meu contexto, não são todos. Ao longo da minha trajetória como pesquisadora e professora, tenho colocado em curso o que Perrenoud pontua: prática pedagógica que envolve ação, reflexão e ação.

Pensar a educação como um direito de todos não é tarefa fácil, pois exige reflexão desde o planejamento até a avaliação, seja o curso presencial ou on-line. Aprender é um direito de todos. Exige trabalho e mobilização dos atores envolvidos; reflexão, ação, conversa com o nosso estudante e, principalmente, revisão da prática pedagógica. Adaptar não é sinônimo de incluir, embora muitos ainda acreditem nisso. Prefiro atividades mais flexíveis e que promovam a colaboração em sala de aula. Feliz ou infelizmente, nem sempre a tão famigerada “prova” está dentre os instrumentos de avaliação.

Escrevo este texto com conhecimento do que costumo chamar “chão da escola”, já que estou professora de ensino médio para adolescentes e turmas de educação de jovens e adultos. Sempre à disposição para colaborar e receber ajuda também! Como a metáfora que citei, acredito que somos pecinhas de um caleidoscópio e que nos complementamos em busca de uma educação que seja verdadeiramente para todos.

*Gabriela Alias é professora de língua portuguesa e língua inglesa no Instituto Federal de São Paulo e doutora em Educação pela Universidade Estadual Paulista.

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