Entrevista com Luana Sanches, publicitária e cadeirante

Foto de rosto de Luana Sanches. Mulher branca de cabelos claros e pele clara.


Luana Sanches*, 29 anos, é uma mulher paulistana de classe média. É publicitária e parece que nasceu com o poder da persuasão. Tem marcantes olhos verdes, um sorriso fácil e uma fala firme. Teve uma paralisia cerebral no momento do nascimento e, por conta disso, não desenvolveu perfeito equilíbrio nas pernas. Como consequência, locomove-se com auxílio de muletas e cadeira de rodas. Anteriormente, fez parte de um grupo de teatro inclusivo, adora ir a shows e ao cinema, gosta de viajar, tem um namorado que é militante político de esquerda e muitas histórias para contar – assim como muitas mulheres da sua idade.

Revista Aluvião: Como você define a sua postura política?

Luana Sanches: Defino a minha postura política como progressista de esquerda.

RA: Há um senso de unidade entre as pessoas com inúmeros tipos de deficiência?

LS: Acredito que as pessoas com deficiência se fecham em grupos de acordo com as deficiências delas. Há o grupo dos lesados medulares, das pessoas com deficiências congênitas, das pessoas com deficiência auditiva, deficiência visual etc. Não vejo uma luta una e acho que, por esse motivo, não vemos avanços significativos com relação à inclusão de pessoas com deficiência na sociedade. Acredito que estamos inseridos na sociedade e não incluídos a ela.

RA: Qual a importância da condição financeira como fator de inclusão/exclusão para as pessoas com deficiência?

LS: Na realidade do nosso país, a pessoa com deficiência só está minimamente inserida a sociedade se tem uma condição financeira um pouco melhor. Infelizmente, a maioria da população com deficiência está nas camadas mais pobres da população, segundo dados de 2015. Assim, vemos poucas pessoas com deficiência nas universidades e, em decorrência disso, as vagas destinas a pessoas com deficiência se restringem a cargos operacionais.

RA: De forma geral, a sociedade brasileira é tolerante com os deficientes físicos?

LS: A sociedade é tolerante no que diz respeito a piedade e tal. Imagino que a sociedade no geral veja as pessoas com deficiência como quem necessita de auxílio e caridade e não como pessoas que têm as mesmas necessidades e direitos que o restante da população, muito menos como pessoas ativas que trabalham e que tem uma vida como os demais. Acredito que essa visão é reflexo da imagem que a mídia apresenta das pessoas com deficiência. Somos representados sempre como pessoas que precisam de ajuda, caridade, compaixão ou como super-heróis que somos capazes de fazer coisas incríveis, como praticar esportes mesmo estando em uma cadeira de rodas. Não vemos uma representação que mostre a pessoa com deficiência com naturalidade.

RA: Em quais situações é possível presenciar a intolerância contra deficientes físicos?

LS: Acho que parte das pessoas acredita que a população com deficiência tem “privilégios”, quando esses direitos considerados “privilégios” buscam apenas corrigir a realidade de exclusão social.

RA: De modo geral, no campo da publicidade, em que nível as pessoas com deficiência física são contempladas?

LS: A publicidade vem buscando se aproximar das minorias sociais, basicamente, para balizar o discurso de empresas que querem vender uma imagem socialmente responsável. Porém, na maioria das tentativas, essa atitude corrobora em um discurso estereotipado em que o deficiente representa um coitadinho ou um super-herói. 

RA: O que poderia ser feito para melhorar esse quadro?

LS: Acredito que para a publicidade se apropriar de forma positiva desse tema deve se aproximar dele. Seria interessante ter mais pessoas com deficiência trabalhando na criação dos conceitos, enxergando esse tema de dentro e trazendo visões reais.

RA: Que tipo de ação afirmativa poderia ser tomada pelo Estado para contemplar alguns dos anseios da população com deficiência física?

LS: Acredito que devemos ter cotas para ingressar nas universidades e nos qualificar. Além disso, ter a ampliação do sistema de transporte público adaptado.

RA: Como foi a sua experiência no teatro?

LS: Minha experiência no teatro foi transformadora. Participei de um grupo que havia cadeirantes, pessoas com deficiência visual e pessoas sem deficiência. Nele desenvolvi autoestima, conheci outras pessoas com deficiência que trabalhavam, tinham estudado, eram casadas, tiveram filhos e percebi que a vida poderia ser muito mais ampla do que eu poderia imaginar.

 

*Luana Sanches é publicitária. E-mail: luanarsanches@gmail.com.

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