O brilhante B. Traven

Foto de rosto, de perfil, de B. Traven, em preto e branco.


por Sarita Borelli*


Quando um livro cai sobre você ou te espia em corredores de uma livraria, o conselho é agarrá-los e lê-los, sem sobreavisos nem desculpas. Ocorreu comigo, com a biografia emocionante Antes que anoiteça de Reinaldo Arenas e tornou a acontecer, nesses tempos, com o intrigante livro O visitante noturno de B. Traven.

B. Traven é um autor minimamente estranho. Taxado de anarquista, leio a informação no prefácio de Rogério de Campos que diz “Um anarquista que era o escritor favorito de Churchill. E também de Einstein, que perguntado sobre qual livro levaria para uma ilha deserta, respondeu: ‘qualquer um que tenha sido escrito por B. Traven’”. Suas excentricidades continuam com a história de que o autor, na verdade, é um pseudônimo de alguém que não se revelou ao público durante toda a sua vida. A editora, em uma mensagem na página de créditos, anuncia que não encontrou os responsáveis pelos direitos autorais da obra.

Em uma conferência no exterior no ano de 1960, o então presidente do México, Adolfo López de Mateos (1908-1969), deu uma declaração à imprensa de que não era B. Traven e que sua irmã, Esperanza López de Mateos (1907-1951), ativista política e tradutora, também não era.

As peculiaridades continuam: quando seu livro O Tesouro de Sierra Madre vira roteiro de um filme de John Huston, B. Traven é convidado a comparecer no set de filmagens. Porém, manda um representante, um tal Hal Crove, um possível trocadilho para all cover. Poderia ser ele mesmo, quem sabe?

Na expedição sobre B. Traven, chovem nomes excêntricos e nacionalidades diversas. O fato comprovado é que ele escreveu bons livros, refugiou-se por um tempo e morreu no México.

A intrigante história do estrangeiro, que cai aqui por essas bandas, reservado e intelectual é a história que lemos em O visitante noturno, um conto biográfico talvez?

São diversas perguntas sem respostas, mas uma passagem interessante do prefácio pode justificar o seu autoapagamento. Como anarquista, B. Traven não acreditava em autoridades, muito menos a do autor. Essa posição valeria tanto para ele, quanto a do tipógrafo ou a do encadernador. É bonito conhecer alguém que acredita em algo e não arreda.

*Sarita Borelli é pós-graduada em Design Editorial pelo Senac, graduada em Letras pela Universidade de São Paulo, designer, editora responsável pela Editora Gota e idealizadora da Revista Aluvião.

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