Pessoal do Ceará

Foto do cantor Ednardo.
Foto do cantor Ednardo. ©Derbsonfrota [CC BY-SA 3.0 (https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0)]

 

por Roberto Lopes*


No embalo da voz inesquecível do mestre Belchior, vou de mala e cuia para o Ceará. Com armas e bagagens[1], enrolo-me na embalagem musical do estado, principalmente naquela dos saudosos anos 1970. Produto esquecido, mas que ainda anda vendendo por aí e, apesar de rotulado como popular, a cultura do povo vem fechando e vedando, para as minhas tristezas, as portas do passado, fazendo com que meus contemporâneos não ativem seus sentidos nem emprestem minha chave e o meu cofre que contém um segredo e mais de mil coisas boas, hoje em dia tratadas sem cuidados. Não ter para onde e por que ir é complicado, talvez seja medo do estrondo porque o recado, apesar de velho, é muito moço.

Precedidos por Patativa do Assaré e sucedidos por Wesley Safadão, temos Ednardo, Rodger, Teti, Belchior, Fagner e tantos outros, todos juntos num só coro que, como um farol, pisca, pisca e ativa em ti e em mim coisas assim sem explicação, que de tão difíceis de serem definidas e descritas são subentendidas através dos etceteras[2] da vida.

No embalo da mala, embalagem vendendo
Vedando, minhas portas, meus sentidos
Minha chave, meu segredo, mil cuidados, não ter medo
Pisca, pisca, em ti e em mim, coisas assim
Coisas assim e etc., e etc., e etc.

*Roberto Lopes é graduado em matemática e editor de livros didáticos. E-mail: betovisk85@gmail.com

[1] A expressão “com armas e bagagens” ou “de armas e bagagens” é o equivalente luso da expressão “de mala e cuia”, mais característica do português brasileiro.

[2] Et cetera é uma locução conjuntiva, torná-la substantivo e escrevê-la no plural caracteriza um barbarismo do mais alto grau.

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